Há cem mil anos, os homens tinham como inimigos os grandes mamutes e tigres dentes-desabre, bichos gigantes e com enormes garras.
Enfrentar ameaças como essas exigia reações rápidas. Era uma questão de vida ou morte. O indivíduo, automaticamente, preparava-se para
reagir à situação, usando a força física. O cérebro alertava seu corpo para a necessidade de ação, disparando uma cadeia de reações, que começava no seu sistema nervoso central, e a qual o Dr. Selye denominou de síndrome de luta ou fuga. O hipotálamo fazia funcionar a glândula
pituitária, que, por sua vez, estimulava as glândulas suprarrenais. Estas liberavam adrenalina, acelerando os batimentos cardíacos, fazendo o sangue correr mais depressa e aumentando a pressão sanguínea. As suprarrenais, simultaneamente, liberavam corticoides que ordenavam ao fígado para despender mais glicogênio. Como o sangue glicosado afastava-se da superfície do corpo, deslocando-se para os músculos e órgãos internos, nosso antepassado ficava momentaneamente pálido. Diante de tanta energia (glicose) para ser queimada, seu ritmo respiratório tornava-se rápido e intenso, aumentando o volume de oxigênio. As mãos crispavam-se, e nosso parente distante estava pronto para enfrentar a ameaça.
Cem mil anos depois, por mais que você se veja tentando manifestar a síndrome de luta ou fuga diante das ameaças, dificilmente conseguirá,
porque aprendeu que esta não é uma forma adequada de comportamento. Com certeza, expressar-se-á de forma mais civilizada, mais
aceitável socialmente. Para reter o impulso natural, instintivo, você ativa o sistema nervoso parassimpático, e este reduz os batimentos cardíacos, o ritmo respiratório e a pressão arterial. Porém, ainda sobrevive uma tensão, um resíduo de excitação, de adrenalina e de cortisol, que levará algum tempo para serem totalmente reabsorvidos pelo organismo. Infelizmente, no mundo atual, é provável que você encontre outro "predador contemporâneo", antes de o seu organismo reabsorver a tensão da ameaça anterior. Uma nova reação de fuga ou luta é irrompida num corpo ainda sob o impacto de fortes alterações bioquímicas. Estabelece-se, então, uma situação crônica, em níveis que inibem o relaxamento, na qual você não consegue mais descontrair. Mesmo quando as ameaças não estão presentes, seu corpo permanece influenciado pela síndrome de luta ou fuga.
A visão de que é necessário eliminar o stress precisa ser revista. Se o organismo disparou adrenalina em nosso sistema, não foi por acaso. O
que precisamos é utilizar essa substância a nosso favor. Quando estamos sob a influência de algum tipo de pressão, seja qual for, o nosso corpo
utiliza-se de um artifício para nos impelir à ação, e é isto que devemos fazer, agir. Transformar tensão em ação. Pode ser algo para resolver a
situação incômoda ou derivar para outra atividade produtiva.
Por outro lado, o stress exagerado e por longos períodos, pode nos levar a exaustão e dificuldade de adaptação, e este deve ser evitado.
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